Que Urbanidade?
em busca das feli-cidades
Há uma ideia de cidade que se libertou dos condicionamentos antropológicos do espaço da sobrevivência humana. O poder apropriou-se desta ideia como uma vantagem, servindo-se do que vai fundamentá-la para perpetuar as lógicas de uso e apropriação do espaço (sobretudo no sentido da manutenção de uma certa ordem) Trata-se de: controlar, fragmentar, proibir e permitir as acções humanas no espaço do seu quotidiano. Assim, do ponto de vista das instituições, a cidade é receptáculo dos mecanismos através dos quais os conteúdos institucionais condicionam o nosso perfil de “cidadãos”.
Entretanto, nos seus limites, como conceito e em resultado disto, a cidade vai-se reformulando. E, por aqui, levantam-se sempre as questões associadas aos vários tipos de legitimidade e ao processo de evolução da nossa própria identidade. No nosso tempo, o que é legítimo e o que é identitário ficou reduzido a uma negociação entre o usufruto e a privação de coisas e serviços "qualificados". Eis que, finalmente, a significação recobre o proveito. Não haverá, hoje, uma economia do desejo que influencia decisivamente a nossa relação com as cidades? Só por esta razão torna-se urgente repensarmos o sentido daquilo a que chamamos urbanidade.
Temáticas:
Arquitecturas da Felicidade
Como dispositivo que artificializa o nosso habitat, a cidade parece ter descoberto o seu mais generoso objectivo na manutenção de um espaço de sobrevivência edénico, onde um modelo de uso e as condições capazes de o oferecer tentam suprimir todos os incómodos inerentes à sobrevivência física do corpo do habitante.
Economias (da Tolerância e do Autoritarismo)
O modo como os recursos, os serviços e os bens se encontram distribuídos pela população, tal como o poder que gere a cidade e hierarquiza prioridades, permitindo ou proibindo o estabelecimento de territórios e garantindo a manutenção de uma ordem que viabiliza um certo tipo de mercado, são reflexos e tornam-se desenhadores das lógicas urbanísticas.
Ambientes (Bons e Maus)
Há sempre uma espécie de compromisso entre os benefícios e os malefícios ambientais resultantes da exploração a que cada parcela do território é submetida quando o seu desenvolvimento depende de interesses de grande escala que instrumentalizam a força do trabalho, a habitação, as acessibilidades e as características climáticas e geomorfológicas de uma região.
Memórias e Culturas (deluxe)
A ideia de património só se torna compreensível a partir daquela concepção de identidade que mantém as memórias dos lugares e dos acontecimentos (de algum modo mitificados) associadas à conservação, reconstituição e invenção de um cenário que evoca os tempos fundadores (e a ordem que caracterizava a imagem do mundo forjada, então, pelo pensamento dominante) da sociedade que agora procura legitimação na qualidade (pressuposta) das suas próprias origens.